Livro "O Velho e o Mar": quando um homem luta, mesmo quando tudo parece perdido
- Jackson Ferreira
- 17 de abr.
- 4 min de leitura
Há livros que se tornam clássicos pela grandeza da história. Outros, pela simplicidade com que narram o que é essencial. O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, pertence à segunda categoria — e talvez por isso tenha resistido ao tempo como um farol aceso na alma de leitores que buscam mais do que aventuras: buscam significado.

O enredo: um homem, um peixe, um mundo (com spoiler)
O Livro "O Velho e o Mar" conta a estória de Santiago, um velho pescador cubano, está há 84 dias sem pegar um único peixe. Considerado "salado" (amaldiçoado) pelos colegas, ele decide lançar-se ao mar sozinho em sua pequena canoa, em uma tentativa de quebrar o jejum e provar — para si mesmo — que ainda é o homem que sempre foi.
Nas profundezas do oceano, ele fisga um gigantesco marlin, iniciando uma batalha que se estende por três dias. O peixe é forte. O mar, implacável. O corpo de Santiago, cansado. Mas sua alma, essa permanece firme como um rochedo. O velho resiste, mesmo quando tudo em sua carne implora por rendição.
No fim, ele vence... mas perde. Porque os tubarões devoram o peixe que ele amarrou ao lado do barco. Santiago volta com nada — exceto os ossos da criatura, seu orgulho intacto e a certeza de que um homem pode ser destruído, mas jamais derrotado.
A verdadeira magia do livro reside não apenas nos eventos que se desenrolam, mas na maneira como o enredo se desvela e como os diálogos internos de Santiago ressoam profundamente em nossas próprias reflexões.

Por que este livro "O Velho e o Mar" é tão querido pelo público masculino?
Talvez porque O Velho e o Mar fale diretamente à experiência arquetípica do homem em confronto com o mundo. Hemingway cria um personagem que é, ao mesmo tempo, frágil e poderoso — um idoso solitário, mas de espírito invencível. Santiago representa aquela figura ancestral que todo homem conhece intimamente: o guerreiro silencioso, calejado pelo tempo que não busca fama, mas dignidade. Que não fala muito, mas age com firmeza. Que falha, mas não se curva.
É um livro sobre perseverança sem testemunhas, sobre seguir em frente mesmo quando ninguém mais acredita, quando ninguém está vendo. E quantos homens, silenciosamente, vivem isso todos os dias?

As lições de coragem, honra e resiliência
Santiago nos ensina que o valor de um homem não está no que ele conquista, mas no como enfrenta a vida. Mesmo sozinho, mesmo enfraquecido, ele decide lutar. E é nessa decisão que está sua verdadeira vitória.
“O homem não foi feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.”
— Hemingway
Essa frase resume toda a filosofia do livro: perder não é o fim, se você perder com honra de quem sabe que a derrota é provisória e a vitória efêmera. Santiago não pesca o peixe para se vangloriar, não luta por aplausos. Ele luta porque é isso que homens como ele fazem. E é exatamente aí que mora a beleza do fracasso digno — o fracasso que honra a alma.
Há um momento de profunda humanidade quando o jovem Manolin, aprendiz e amigo de Santiago, vai visitá-lo após seu retorno. Ao vê-lo exausto, ferido, dormindo com as mãos em carne viva, o garoto chora — não de pena, mas por empatia e preocupação. O Amor fraternal, silencioso, que não exige explicações. Um tipo raro de vínculo que permanece entre um filho e seu pai, a ligação entre irmãos, aluno e professor. Porque enquanto os outros apenas observam a gigantesca carcaça do peixe presa ao lado do barco — admirando o tamanho do animal sem entender o tamanho da luta —, Manolin enxerga o homem que resistiu. Essa cena nos lembra de algo essencial: a batalha de cada um é, quase sempre, invisível aos olhos do mundo. Só os que amam de verdade conseguem enxergar as marcas deixadas por aquilo que nunca foi dito.
O povoado vê apenas o esqueleto do peixe. Acham impressionante, mas não compreendem o que ele representa. Ignoram o mar revolto, os tubarões, a dor e a solidão. Porque a verdadeira luta, aquela que molda o espírito, raramente deixa evidências compreensíveis à maioria. E, ainda assim, Santiago não sente rancor. Ele sabe: a honra da luta não depende do aplauso de ninguém.

Paralelos com a Filosofia e a Psicologia
Filosoficamente, O Velho e o Mar ressoa com os princípios do estoicismo. Santiago aceita o que a vida lhe dá, concentra-se naquilo que pode controlar, no momento presente— seu esforço, sua conduta — e não reclama daquilo que perde. Como os estoicos ensinavam, a virtude está em como vivemos, não no que alcançamos.
Psicologicamente, o livro é uma metáfora poderosa sobre resiliência, conceito essencial na Terapia Cognitivo-Comportamental. Santiago mantém sua identidade, mesmo diante do fracasso. Ele preserva sua autoimagem e significado de vida, mesmo quando a realidade externa o contradiz. E isso nos mostra algo fundamental: não somos o que o mundo nos dá, mas o que escolhemos ser diante do mundo.
Em tempos de burnout, ansiedade, solidão e esgotamento emocional, Santiago é um símbolo. Ele representa o homem moderno — cansado, ferido, mas ainda de pé. E mais: mostra que mesmo as vitórias "perdidas" podem ser triunfos da alma.
“Cada um de nós é um velho no seu próprio barco no mar”
-Jackson W.G Ferreira
No fim, O Velho e o Mar não é apenas sobre pesca. É sobre a vida. Sobre insistir mesmo quando não há mais ninguém olhando. Sobre continuar mesmo quando o prêmio foi embora. Sobre ser quem você é, mesmo quando o mundo não recompensa isso.
Porque talvez a maior conquista não seja o peixe — mas a força de não abrir mão de si mesmo.
Referências
HEMINGWAY, Ernest. O Velho e o Mar. São Paulo: Bertrand Brasil, 2011.
RYAN, Richard. Estoicismo e o Sentido da Vida. São Paulo: É Realizações, 2019.
SENECA, Lúcio Aneu. Sobre a brevidade da vida. São Paulo: L&PM Pocket, 2009.
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Petrópolis: Vozes, 2008.
BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.
コメント