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Alexitimia: quando o coração sente, mas não sabe dizer

Imagine viver com o coração apertado, o estômago revirado ou um nó na garganta... mas não saber nomear nada disso. Não por orgulho ou silêncio, mas porque simplesmente não há palavras que deem conta do que se sente. Esse é o retrato silencioso da alexitimia, uma condição emocional pouco conhecida, mas mais comum do que se imagina.


Se você já se relacionou com alguém que parecia frio, indiferente ou inacessível emocionalmente, talvez tenha esbarrado com esse fenômeno. Ou quem sabe, ao ler este texto, perceba traços em si mesmo — e isso não é motivo para vergonha, mas sim um convite ao autoconhecimento.

mulher com mascaras representando emoções quebradas Alexitimia

Afinal, o que é alexitimia?


Do grego a (sem), lexis (palavra) e thymos (emoção), alexitimia significa literalmente “sem palavras para os sentimentos”. É a dificuldade persistente de identificar, compreender e expressar emoções — sejam elas positivas ou negativas. Pessoas com essa característica costumam ter:


  • Dificuldade de reconhecer e descrever o que sentem;

  • Tendência ao pensamento lógico, concreto e prático;

  • Pouca ou nenhuma imaginação ou fantasia emocional;

  • Baixa empatia e dificuldades na escuta emocional;

  • Conflitos recorrentes nos relacionamentos afetivos;

  • Sensações corporais confusas, sem associação com sentimentos.


A pessoa com alexitimia pode saber que está desconfortável, mas não consegue identificar se é raiva, tristeza ou ansiedade. Ela se cala, se isola ou, as vezes, explode — não por escolha, mas por limitação de linguagem emocional.


De onde vem a alexitimia?


As causas da alexitimia são multifatoriais. Em alguns casos, pode haver origem neurológica, como em pessoas com espectro autista ou lesões em áreas do cérebro ligadas à emoção (como o sistema límbico). Mas, na maioria das vezes, ela está associada a experiências emocionalmente traumáticas, principalmente na infância.


Crianças que cresceram em ambientes frios, negligentes ou onde expressar emoções era punido ou ridicularizado, muitas vezes aprendem — ou melhor, desaprendem — a linguagem do sentir. Ao invés de nomear as emoções, elas aprendem a silenciar, reprimir ou negar o que se passa internamente. A longo prazo, essa adaptação torna-se um padrão emocional rígido.


Além disso, questões culturais e de gênero influenciam diretamente. Quantas vezes meninos ouviram “engole o choro” ou “homem não sente medo”? Essas frases não só amputam a expressão emocional, como moldam adultos incapazes de acessar suas próprias fragilidades.


Alexitimia nos relacionamentos: o peso de sentir sozinho


Conviver com alguém que tem alexitimia pode ser emocionalmente exaustivo. O parceiro pode se sentir ignorado, frustrado ou desamado. Frases como “parece que estou falando com uma parede” ou “ele(a) nunca me entende” são frequentes em sessões de terapia de casal.


Por outro lado, quem tem alexitimia também sofre — em silêncio. Muitos descrevem uma angústia difusa, uma sensação de que falta algo, mas sem saber exatamente o quê. E isso torna o processo de pedir ajuda ainda mais difícil.


Num relacionamento afetivo, onde a intimidade é construída por meio da troca emocional, essa barreira pode gerar solidão a dois, afastamento e mágoas mal resolvidas. É preciso muito cuidado para que essa dificuldade não seja confundida com desinteresse, frieza ou desprezo.


Como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ajudar


A boa notícia é que a alexitimia tem tratamento — e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes para esse processo.


Na TCC, o paciente é estimulado a identificar seus pensamentos automáticos, reconhecer suas emoções e desenvolver vocabulário afetivo. Através de exercícios estruturados, registros emocionais, treinamento em assertividade e mindfulness, é possível criar um novo repertório de expressão emocional.


O psicólogo funciona como um tradutor, ajudando o paciente a reconhecer seus sentimentos e comunicá-los de forma clara e respeitosa — para si e para o outro.


Rumo a uma linguagem do sentir


Superar a alexitimia não é apenas uma questão de “falar sobre emoções”. É, acima de tudo, reconstruir a ponte entre o sentir e o dizer, entre o que o corpo grita e o que a mente tenta silenciar. É um processo de reapropriação da própria humanidade.


Se você sente que não consegue colocar em palavras aquilo que se passa dentro de você, ou se relaciona com alguém assim, não banalize. A alexitimia não é frescura, nem falta de empatia. Pode ser um pedido de ajuda disfarçado de silêncio.


E como toda dor que é reconhecida e cuidada, pode se transformar. Porque, no fundo, todos nós precisamos — e merecemos — ser compreendidos. Inclusive por nós mesmos.


Referências bibliográficas:


  • BAGBY, R. M.; TAYLOR, G. J.; PARKER, J. D. A. The twenty-item Toronto Alexithymia Scale–II: Convergent, discriminant, and concurrent validity. Journal of Psychosomatic Research, 1994.


  • LANE, R. D.; SCHWARTZ, G. E. Levels of emotional awareness: A cognitive-developmental theory and its application to psychopathology. American Journal of Psychiatry, 1987.


  • BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.


  • MARTINS, Pedro H. de A. Alexitimia: uma barreira para o desenvolvimento emocional. Revista Brasileira de Psicoterapia, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 35-49, 2015.


  • TAYLOR, G. J.; BAGBY, R. M.; PARKER, J. D. Disorders of affect regulation: Alexithymia in medical and psychiatric illness. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

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Jackson Ferreira

Psicologia e desenvolvimento pessoal
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