Um Coração Partido Nunca vem de um Inimigo: Inteligência Emocional e Escolhas Afetivas
- Jackson Ferreira
- 25 de ago.
- 3 min de leitura
Você já percebeu que os maiores sofrimentos emocionais não vêm de inimigos, mas de pessoas próximas? Em 14 anos de prática clínica, nunca encontrei um paciente em sofrimento profundo por causa de um inimigo declarado. O coração partido sempre veio de amores, amizades e vínculos de confiança.
Neste artigo, vamos explorar por que isso acontece, o que a psicologia nos ensina sobre vínculos afetivos, como a inteligência emocional pode nos proteger e de que forma a terapia é essencial para aprender a escolher melhor quem tem acesso às nossas emoções.

Por que um inimigo não parte o coração?
A dor emocional nasce do vínculo afetivo, não do conflito externo. Aaron Beck, criador da Terapia Cognitivo-Comportamental, dizia que não é o evento em si que nos faz sofrer, mas o significado que atribuímos a ele.
Um inimigo pode provocar irritação, mas dificilmente abalará profundamente nosso mundo emocional, porque dele não esperamos cuidado ou lealdade. Já quando alguém próximo nos decepciona, o impacto é devastador, como mostrou John Bowlby na Teoria do Apego: se o porto seguro falha, todo o equilíbrio interno é ameaçado.
O paradoxo do amor e da dor
O coração só pode ser partido por quem antes nos trouxe alegria. Como disse Carl Jung:
“Onde há amor, há sempre risco de dor.”
Isso não significa que devemos nos fechar para o afeto, mas sim aprender a cultivar relações de forma consciente, praticando o autocuidado emocional e escolhendo com sabedoria quem terá acesso ao nosso coração.
A inteligência emocional como fator de proteção
Segundo Daniel Goleman, a inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e regular nossas emoções. Pessoas emocionalmente inteligentes:
Sofrem, mas conseguem se recuperar mais rápido;
Reconhecem padrões de vínculos tóxicos;
Criam limites saudáveis;
Sabem distinguir entre afeto genuíno e dependência emocional.
No consultório, vejo que a diferença entre quem adoece e quem amadurece diante das dores emocionais está justamente no modo como lidam com suas emoções.
Terapia: um treino para o coração e a mente (coração partido nunca mais)
Se a academia fortalece o corpo, a psicoterapia fortalece a mente e o coração. Ela ensina a:
Identificar relações abusivas e padrões repetitivos;
Prevenir adoecimento emocional;
Ampliar a resiliência diante de perdas;
Aprender a não entregar nosso bem-estar emocional a quem não sabe cuidar dele.
Como dizia Viktor Frankl:
“Tudo pode ser tirado de um homem, exceto a última das liberdades humanas: escolher sua atitude diante das circunstâncias da vida.”
Um convite à reflexão
O coração nunca é partido por quem já está do lado de fora. Ele se parte quando damos acesso a alguém que não soube cuidar de nós. Por isso, cultivar inteligência emocional, manter a terapia em dia e praticar autocuidado afetivo são passos fundamentais para viver relações mais saudáveis e equilibradas.
🔑 Lembre-se: não podemos evitar todas as dores, mas podemos aprender a escolher melhor quem tem o poder de tocá-las.
Referências
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 25. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 👉 Fundamenta a ideia de que o desenvolvimento da inteligência emocional é essencial para lidar com sentimentos em relações interpessoais.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 👉 Aponta que parte do sofrimento humano surge das relações e vínculos que estabelecemos, não de inimigos externos.
JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. 👉 Reflete sobre a importância da individuação e da consciência para lidar com vínculos emocionais e escolhas de relacionamento.
FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido. 41. ed. Petrópolis: Vozes, 2019. 👉 Defende que o sofrimento pode ser ressignificado e que o sentido encontrado em relações e escolhas pessoais ajuda a superar dores emocionais.
BECK, Aaron T.; ALFORD, Brad A. Depressão: causas e tratamento. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 👉 Explica como os esquemas cognitivos e vínculos afetivos impactam diretamente a forma como interpretamos perdas e sofrimentos emocionais.
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