O vazio existencial que ninguém vê
- unidadepsi
- 9 de mai.
- 3 min de leitura
Uma ferida silenciosa que pode habitar até nos sorrisos mais bonitos
“Você está bem?” “Claro." E o mundo segue.
Vivemos cercados por gente que responde “tudo certo” com um sorriso automático e uma alma em ruínas. Porque o vazio — aquele que mora no peito, não no estômago — não grita, não sangra, não mancha a roupa. Mas corrói por dentro. E ninguém vê.

O silêncio das ausências
Há um tipo de cansaço que não se resolve com sono. Uma tristeza que não tem motivo, mas pesa. Gente funcional, cumprindo tarefas, pagando boletos, rindo em reuniões… mas esgotada por dentro. Às vezes, esse vazio é a saudade de algo que nunca aconteceu. Outras vezes, é a ausência de si mesmo.
O filósofo Nietzsche dizia que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Mas e quando perdemos o “porquê”? Quando não há propósito, nem chão, nem horizonte claro — apenas a repetição de dias que não fazem sentido? É nesse ponto que o vazio nos encontra. Disfarçado de rotina, de produtividade, de “vida normal”.

A ilusão da completude
Fomos ensinados a procurar fora o que só se encontra dentro. Compramos, comemos, nos distraímos. Mas o que falta nunca é "coisa". O que falta é sentido. E o sentido — como dizia Viktor Frankl — não se acha pronto. Se constrói.
Não é à toa que tanta gente se sente insuficiente mesmo rodeada de conquistas. Porque se a alma está desnutrida, não adianta encher os bolsos.

O nome do vazio existencial
Na psicologia, chamamos isso de Anedonia, depressão existencial, popularmente chamada de crise de identidade. Mas o nome importa menos do que você sente e da escuta que você merece. Porque esse vazio só se revela onde há espaço seguro — uma conversa sincera, uma escuta profunda, uma terapia.
A filosofia nos ajuda a pensar. A psicologia, a sentir. Juntas, elas apontam caminhos de reconexão com o que somos. Porque o vazio, às vezes, é só a ausência de autenticidade. As vezes estamos tentando viver a vida que esperam da gente, encenando um papel — e não vivendo o que faz sentido para nós.
Sobre cair e levantar com inteireza
Não se trata de “preencher o vazio existencial” com algo milagroso. Trata-se de aprender a habitá-lo. De permitir-se senti-lo sem culpa. De perceber que o buraco que dói talvez seja também a fresta por onde a luz entra, como dizia Leonard Cohen.
Permita-se parar. Respirar. Perguntar a si mesmo: “De quem é essa vida que estou vivendo?” “Estou presente nela ou apenas fingindo presença?” Porque o mundo te aplaude quando você finge que está bem. Mas a tua alma só floresce quando você é verdadeiro com ela.

o auto cuidado como uma revolução silenciosa
Talvez você nunca tenha aprendido que merece cuidado. Que tudo bem chorar de vez enquanto, sem pedir desculpas, sem se envergonhar. Que buscar ajuda não é fraqueza, mas um ato radical de coragem. Nem todo vazio precisa ser preenchido. Alguns só querem ser vistos.
E olhar para o próprio vazio pode ser o primeiro passo para voltar a se sentir inteiro.
Referências:
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 2008.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 2007.
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Vozes, 2001.
COHEN, Leonard. Selected Poems 1956–1968. Toronto: McClelland and Stewart, 1968.
Comments