Psicologia é Ciência? Desmistificando Teorias da Conspiração
Quando se trata de entender o que é ciência, muitas vezes podemos nos perder em definições complicadas. Mas, vamos desmistificar isso. Vamos ver como a psicologia, de fato, se encaixa perfeitamente na definição de ciência.
O que é Ciência? e Psicologia é Ciência? Segundo os autores clássicos e contemporâneos que estudam a ciência, como Michael Gazzaniga em Ciência Psicológica e John R. Anderson em Psicologia Cognitiva, ciência é um processo de observação, experimentação e análise. Ela é pautada por métodos rigorosos que incluem:
Terminologia claramente definida: Na psicologia, usamos termos específicos e definidos com precisão, como "cognição", "comportamento" e "emoção".
Quantificabilidade: Utilizamos testes e medições, como escalas de depressão, questionários de ansiedade e avaliações neuropsicológicas.
Condições experimentais controladas: Nossos estudos são feitos em ambientes controlados, com grupos de controle e variáveis manipuladas de maneira precisa.
Reprodutibilidade: Pesquisas são replicadas em diferentes contextos e com diferentes populações.
Previsibilidade e testabilidade: Hipóteses são formuladas e testadas de maneira rigorosa, permitindo previsões e validações contínuas.
Protegendo-se de erros a ciência é, de fato, a arte da dúvida e da correção de caminhos. Na psicologia, utilizamos revisões por pares, replicações e meta-análises para garantir que os resultados sejam robustos e confiáveis. Quando um estudo apresenta resultados, outros cientistas podem replicar o estudo para verificar se chegam às mesmas conclusões, o que fortalece a evidência.
Medição da Mente "Imaterial"
A mente pode parecer intangível, mas os Cientistas e Psicólogos utilizam diversas ferramentas para medir processos mentais. Escalas padronizadas, testes neuropsicológicos e questionários validados são alguns exemplos de ferramentas usadas por diversos profissionais da área da saúde mental que se complementam. Ferramentas como o MMPI (Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota) são usadas para avaliar estados mentais e traços de personalidade com base em dados empíricos.

São comuns as pesquisas cientificas que registram os desequilíbrios químicos no cérebro que podem ser detectados através de exames laboratoriais e de imagem. Por exemplo, exames de sangue podem medir níveis de neurotransmissores (como exame de dosagem de 5TH para medir a serotonina que pode estar associada a alterações do humor, sono e memória) e exames de imagem, como PET (tomografia por emissão de pósitrons) que podem medir a atividade das áreas cerebrais nas quais a dopamina é produzida e fMRI (ressonância magnética funcional), podem mostrar atividade cerebral atípica.
Como vimos, todos esses desequilíbrios são amplamente estudados, catalogados e publicados assim como suas consequências no comportamento, no campo emocional e cognição, cada grupo de sintomas gera então uma assinatura única que indicam um determinado desequilíbrio na homeostase do cérebro e vice-versa. É por esta razão que a maioria dos diagnósticos feitos por Psicólogos e Psiquiatras são feitos com base nos sintomas apresentados na entrevista e testes (no caso dos Psicólogos) durante as consultas, evitando assim que seja necessário uma enxurrada de exames altamente invasivos.
Exemplos práticos: Diagnóstico de TDAH, Depressão, Ansiedade e TOD
Os diagnósticos de condições como TDAH, depressão, ansiedade e TOD (Transtorno Opositivo Desafiador) são realizados através de uma combinação de entrevistas clínicas, observação comportamental e questionários padronizados e podem exigir a avaliação de equipe multidisciplinar em colaboração entre Psicólogos, psiquiatras e neurologistas. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a vasta literatura acadêmica fornecem critérios específicos para esses diagnósticos, que são aplicados dessa forma pelos profissionais da Psiquiatria. É importante lembrar que o DSM-5 não é a única referencia para profissionais da Psicologia e Psiquiatria para realização de Avaliação Psicológica e Diagnóstico, não é como se fosse uma "Bíblia" a ser seguida cegamente. No Psicodiagnóstico realizado por psicólogos existem uma ampla gama de técnicas de entrevista, testes padronizados e publicações acadêmicas que norteiam seu trabalho.
Para concluir, a psicologia baseada em evidencias como a TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) é uma abordagem que atende aos critérios rigorosos necessários para ser considerada uma ciência. Sua terminologia é clara, seus métodos são quantificáveis e controlados, suas descobertas são reproduzíveis, e suas hipóteses são testáveis e previsíveis. Portanto, a psicologia, assim como qualquer outra ciência, busca entender e explicar fenômenos através de métodos rigorosos e evidências sólidas.
É preciso ficar atento (mas nunca levar a sério, ou dar ibope) a qualquer um que diga que Psicologia não é ciência, pois este é um sinal claro de alguem que não conhece o básico de psicodiagnóstico, está preso em crenças de teorias da conspiração repletas de distorções cognitivas, mal informado ou pior, mal intencionado.
Referencias Bibliográficas
GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON, Todd; HALPERN, Diane. Ciência Psicológica. São Paulo: Pearson, 2019.
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MAZUCATO, Thiago (Org.). Metodologia da pesquisa e do trabalho científico. Penápolis: FUNEPE, 2018.
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