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Presença Paterna: Figura Insubstituível? ou qualquer 'Pé de Mesa' substitui seu papel?

Atualizado: há 3 dias

Há quem diga que a presença paterna não é importante. Que qualquer "pé de mesa" pode cumprir esse papel. Lembro bem dessa frase sendo dita por um professor em uma aula de psicanálise. Esperei pelo fundamento teórico que justificasse tamanha afirmação, mas ele nunca veio. Algumas aulas depois, fomos brindados com um monólogo interminável sobre como a relação desse professor com o próprio pai era conturbada e mal resolvida. Aí tudo fez sentido. Não era ciência, era ressentimento disfarçado de discurso acadêmico.


A verdade é que a presença paterna não apenas importa, como é crucial para o desenvolvimento saudável de um ser humano. E não, não estou falando apenas do provedor financeiro ou da figura distante que aparece em datas comemorativas. Estou falando da participação ativa, do modelo de referência, da influência emocional e cognitiva que um pai pode e deve exercer na vida de um filho.


Pai e filho pescando, presença paterna

O Papel da presença Paterna no Desenvolvimento Humano


A Psicologia do Desenvolvimento há décadas estuda a importância das interações familiares para a formação do indivíduo. Autores como Piaget, Vygotsky, Skinner e Wallon trouxeram contribuições valiosas para entendermos o impacto da presença parental. É com essa base sólida que podemos entender a importância da presença paterna no desenvolvimento humano.


  • Jean Piaget demonstrou que a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo ocorrem através da interação com o ambiente e com as figuras de apego, logo a presença paterna se torna uma figura insubstituível para a criança aprender a interagir com o mundo sobre o viés de um modelo masculino e afeto paterno.


  • Lev Vygotsky destacou o papel do outro – geralmente, os pais – na construção do conhecimento e na formação das funções psicológicas superiores, logo a paternidade se torna um agente importante para somar presença nesse processo junto com a mãe para formação psicológica da criança, ambos exercendo papéis complementares.


  • B. F. Skinner, com o behaviorismo, mostrou como o reforço positivo ou negativo dos pais influencia diretamente o comportamento e a autoestima dos filhos, mães e pais presentes consumam de forma automática assumir papeis distintos e complementares na orientação dos filhos formando uma base cognitiva sólida transmitindo sensação de segurança e noções de certo ou errado a criança em desenvolvimento, possibilitando um ambiente afetivo que promove seu crescimento.


  • Henri Wallon destacou a importância das emoções e da afetividade no desenvolvimento infantil, enfatizando que a presença dos pais é crucial. Nesse contexto o pai serve como um modelo de interação afetiva masculina, tanto paterna quanto fraterna, que a criança tende a aprender e a reproduzir essa interação na fase adulta.


Um estudo por meio de levantamento bibliográfico realizado pela PUC de Goiás reuniu alguns artigos científicos para investigar   "As Consequências da Ausência Paterna na Vida Emocional dos Filhos" conclui que a ausência paterna tem impactos profundos e duradouros no desenvolvimento emocional das crianças. Algumas das principais conclusões incluem:


1.     Impacto Psicológico: A ausência do pai pode levar a sentimentos de desvalorização, abandono, insegurança e baixa autoestima nas crianças.

 

2.     Desenvolvimento Emocional Comprometido: Crianças sem a presença paterna tendem a ter dificuldades em estabelecer relações interpessoais saudáveis e podem enfrentar desafios na construção de sua identidade.


Ou seja, um pai presente e participativo contribui não apenas para a estrutura psicológica da criança, mas também para sua capacidade de aprendizado, sua regulação emocional e seu desenvolvimento moral.


O Efeito da Ausência Paterna


A falta da figura paterna está estatisticamente ligada a uma série de problemas sociais e emocionais. Crianças que crescem sem a presença do pai têm maior propensão a desenvolver transtornos emocionais, baixa autoestima, dificuldades em estabelecer limites e maior vulnerabilidade a comportamentos de risco, como o envolvimento com drogas e criminalidade.


A ausência paterna também impacta a forma como essas crianças se relacionam no futuro. Meninas podem crescer sem um modelo masculino saudável, tornando-se mais vulneráveis a relacionamentos abusivos. Meninos, por sua vez, podem internalizar a crença de que sua presença na vida dos filhos é irrelevante, perpetuando um ciclo de negligência afetiva.


A Desqualificação Paterna e Seus Efeitos Perpétuos


Em muitos casos, o problema não é apenas a ausência física, mas a desqualificação constante da figura paterna dentro da dinâmica familiar. Um exemplo clássico: uma mãe frustrada desmoraliza o pai para o filho. O menino cresce acreditando que a presença do pai é insignificante, que ser pai se resume a pagar contas e nada mais. Quando se torna adulto e tem filhos, repete o mesmo padrão, tornando-se um pai relapso e emocionalmente distante. A militância ideológica, por sua vez, ao invés de reconhecer esse ciclo vicioso, prefere culpar conceitos abstratos como "patriarcado" ou "machismo estrutural", ignorando as responsabilidades individuais e os verdadeiros fatores que contribuem para a crise da paternidade.


Esse tipo de pensamento reducionista apenas agrava o problema, pois em vez de incentivar uma mudança real de comportamento, reforça narrativas que desresponsabilizam indivíduos e perpetuam a desvalorização da paternidade.


Conclusão


A figura paterna é insubstituível. Seu papel vai muito além do suporte financeiro; ele é um pilar fundamental na construção da identidade, da segurança emocional e do desenvolvimento psicológico dos filhos. Quando a paternidade é desqualificada ou negligenciada, a sociedade inteira paga o preço. É hora de abandonar discursos vazios e ideológicos e começar a valorizar, de fato, a importância do pai na formação de seres humanos emocionalmente saudáveis e socialmente responsáveis.


Referências Bibliográficas


PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.


VYGOTSKY, Lev. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1974.


WALLON, Henri. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Moraes Editores, 1975.


LAMB, Michael E. The Role of the Father in Child Development. New York: Wiley, 2010.


PARKER, S. T. Fatherhood: Evolution and Human Paternal Behavior. Cambridge: Harvard University Press, 2012.


AMATO, Paul R. The Impact of Family Formation Change on the Cognitive, Social, and Emotional Well-being of the Next Generation. The Future of Children, v. 15, n. 2, p. 75-96, 2005.


PATERNO, José. A Psicologia da Paternidade: Influências Psicológicas da Presença e Ausência do Pai. São Paulo: Summus, 2015.


TRAPP, Edgar Henrique Hein; ANDRADE, Railma de Souza. As Consequências da Ausência Paterna na Vida Emocional dos Filhos. Revista Ciência Contemporânea, v. 2, n. 1, p. 45-53, jun./dez. 2017.

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Jackson Ferreira

Psicologia e desenvolvimento pessoal
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