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Medicação sem terapia: Por que não funciona? A resposta pode estar nadando por aí…

Imagine uma cena digna de ficção científica: um peixe solitário, em pleno rio, ignorando seu cardume e nadando confiante e irresponsavelmente rumo ao mar — mesmo sabendo que predadores o aguardam. Parece estranho? Pois é exatamente isso que está acontecendo. E o culpado não é outro senão o mesmo ansiolítico que muitos seres humanos tomam diariamente para tentar amenizar sua ansiedade.


A ciência vem alertando: estamos medicando nossos problemas emocionais sem tratar suas raízes. E esse desequilíbrio está extrapolando os consultórios — e pasme! Já está afetando até a natureza.



Matéria do G1 Medicação sem terapia, peixes e ansioliticos

Medicação sem terapia: O que o comportamento de um peixe tem a ver com a saúde mental ?


Pesquisadores da Universidade de Umeå, na Suécia, descobriram que vestígios de medicamentos como clobazam (um ansiolítico da classe dos benzodiazepínicos) e tramadol (um opioide analgésico) descartados na água dos rios e mares (pela urina e etc) podem alterar drasticamente o comportamento de peixes, como o salmão-atlântico.

Os resultados, publicados na revista Science, mostram que os filhotes de salmão expostos a essas substâncias:


  • Migraram mais rapidamente para o mar (mesmo quando o ambiente era perigoso);

  • Evitaram o convívio social (mesmo quando estarem em grupo aumentaria sua chance de sobrevivência);

  • Tornaram-se mais vulneráveis a predadores e ao ambiente hostil.


Medicação sem terapia e o cardume de salmão
Cardume de Salmão

Isso acontece porque o ansiolítico afeta o sistema nervoso dos peixes, exatamente como ocorre com o ser humano. Em outras palavras: estamos diante de uma evidência concreta de que medicar indiscriminadamente gera respostas desadaptativas — tanto em peixes quanto em pessoas. Mas como assim? Calma jovem padawan! Explico:

No caso dos peixes a “medicação” deixa o peixe mais, digamos, “altivo e despreocupado” com o perigo em situações em que o extinto natural seria se proteger e ficar com o cardume.


Na sociedade, costumamos medicar qualquer sensação que nos traga desconforto. Porém, não necessariamente buscamos entender de onde vem e para que serve esse desconforto, o que ele quer nos alertar, como, por exemplo, o causado pela ansiedade.


Medicação sem terapia: o remendo que não cura


A medicação pode ser útil e, em muitos casos, absolutamente necessária. Mas usá-la isoladamente é como colocar um balde embaixo de um gotejamento sem consertar o vazamento no teto.


A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ensina que os pensamentos, emoções e comportamentos formam um ciclo. E esse ciclo pode ser reprogramado com intervenção terapêutica, autoconhecimento e estratégias práticas.

Como bem explica Aaron T. Beck, criador da TCC, os transtornos emocionais são mantidos por padrões de pensamentos disfuncionais. Tomar um ansiolítico pode aliviar temporariamente os sintomas, mas não corrige as crenças limitantes nem desenvolve novas habilidades de enfrentamento emocional.

 

Por que continuamos evitando a terapia?


Vivemos em uma sociedade imediatista, que quer respostas rápidas para dores profundas. Mas o que o estudo com os peixes nos revela é que intervenções isoladas podem nos tornar mais vulneráveis, e não mais saudáveis.

Pessoas que apenas medicam a ansiedade, por exemplo, sem realizar psicoterapia:


  • Têm maior risco de recaídas quando param a medicação;

  • Desenvolvem menos recursos emocionais para lidar com estresse;

  • Tornam-se dependentes da substância para se sentir “normal”.


A boa notícia? A combinação entre psicoterapia e medicação (quando necessária) é o caminho mais eficaz e cientificamente validado para o tratamento de transtornos como ansiedade e depressão. E a TCC é uma das abordagens com maior respaldo em evidências.

 

A mente humana é mais complexa que a química do cérebro


Assim como o salmão precisa do seu ciclo natural e dos estímulos certos para sobreviver, nós também precisamos de contexto, segurança, apoio e compreensão emocional para evoluir.


Na Psicologia baseada em evidências, aprendemos a cuidar da mente, do corpo e das emoções de forma integrada. Medicação sem terapia pode silenciar os sintomas, mas é a terapia que ensina a escutar a causa.


Se você ou alguém que conhece está usando medicação e ainda sente que falta algo… talvez esteja na hora de buscar uma escuta qualificada. Um psicólogo especializado em TCC pode te ajudar a mudar padrões, reformular crenças e desenvolver uma vida emocional mais estável e consciente.


Se esse conteúdo te fez pensar de forma diferente sobre o uso de medicamentos, compartilhe com alguém que precisa refletir sobre isso.Para mais artigos como esse, assine nosso blog e me siga no Instagram: @psic.desenvolvimento

Se precisar de apoio psicológico, entre em contato. A saúde emocional é o investimento mais inteligente que você pode fazer.


Referências


  • BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: teoria e prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021.

  • COMER, Ronald J. Psicopatologia: uma abordagem integrativa. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021.

  • KRANTZ, David S.; JOHNSON, Barbara. Comportamento, Saúde e Doença. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

  • FAVA, Giovanni A.; TOSATO, Paola. Integrating Pharmacotherapy and Psychotherapy in the Treatment of Major Depression. Dialogues in Clinical Neuroscience, 2019.

  • BRODIN, Tomas et al. Ecological effects of pharmaceuticals in aquatic systems—impacts through behavioural alterations. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 2014.

  • BRODIN, T. et al. Science. Environmental exposure to pharmaceuticals affects fish behavior and survival. Science, 2024.

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Jackson Ferreira

Psicologia e desenvolvimento pessoal
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