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Distúrbios do Sono e Insônia: Quando a Mente Não Desliga, o Corpo Não Descansa

Atualizado: 17 de abr.

Imagine-se deitado na cama, os olhos fechados, o corpo exausto, mas sua mente… acelerada. Os pensamentos correm em círculos, revivem cenas do dia, planejam o amanhã, resgatam traumas ou inventam problemas ainda inexistentes. Você olha para o relógio: 2h47. Vira para o lado. Olha o celular. E nada. A insônia chegou — não com um estrondo, mas com um sussurro persistente.


Esse drama noturno é mais comum do que parece, e o mais curioso: não é sempre culpa do café ou do celular antes de dormir. Muitas vezes, a insônia é o sintoma — e não a causa. O reflexo de uma mente sobrecarregada, ansiosa ou inconscientemente atormentada por conteúdos emocionais mal resolvidos.


Mulher com insonia

Distúrbios do Sono: Quando a Alma Fala Enquanto o Corpo Dorme


Além da famosa insônia, o universo dos distúrbios do sono é vasto e intrigante e amplamente estudada por toda comunidade cientifica. Sintomas como bruxismo, ronco, pesadelos, terror noturno, sonambulismo, enurese noturna e síndrome das pernas inquietas não são meras curiosidades clínicas — são manifestações psicossomáticas, muitas vezes ligadas ao estresse, repressões emocionais e traumas não elaborados.


O psicólogo Wilson Trinca (2009), em sua análise sobre a chamada “insônia simples”, aponta que a dificuldade para adormecer sem causas biológicas claras está profundamente conectada à hiperatividade mental e emocional. São memórias — prazerosas ou dolorosas — que emergem no silêncio da noite e sequestram a tranquilidade do sono. E aqui está o ponto central: essas memórias, não raro, são ignoradas ou negadas durante o dia, mas encontram à noite o palco perfeito para sua encenação.

 


Encefalograma distúrbio do sono
Exame para investigação de distúrbio do sono

Quando o remédio apenas silencia… mas não cura


É claro que medicamentos podem ser úteis. Eles induzem o sono, reduzem a ansiedade e ajudam a atravessar fases mais críticas. Porém, e isso precisa ser dito com todas as letras: remédio não cura insônia quando sua causa está na alma, na mente, ou no passado não digerido. Eles aliviam, sim. Mas também podem gerar dependência, efeitos colaterais e — pior — a falsa sensação de que o problema está resolvido.


A psicoterapia, por outro lado, vai à raiz do distúrbio. Identifica padrões mentais, emoções reprimidas, crenças disfuncionais e contextos emocionais que ativam o cérebro em momentos em que ele deveria repousar. Especialmente com a abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), há evidências sólidas de que a reestruturação dos pensamentos e comportamentos é eficaz no tratamento da insônia crônica (Morin et al., 2006).

 

Mas Psicólogo pra dormir melhor? Ah, faça-me o favor…


A essa altura, pode surgir aquele pensamento: “Então agora vou pagar psicólogo pra conseguir dormir? Não é exagero? Por um acaso o psicólogo vai me colocar na cama e cantar nana nenê?””. A essa voz cética, deixo um convite: experimente continuar achando que sua mente desorganizada vai se acalmar sozinha só porque você comprou um travesseiro mais caro e uma caixa de Rivotril ou Zopidem. E boa sorte!


Enquanto isso, pessoas que entenderam a conexão mente-corpo estão dormindo melhor — sem precisar de comprimidos todas as noites. Fica a dica!


Sono e trabalho: um ciclo de sabotagem invisível


Trabalhadores em turnos noturnos, membros da CIPA, gestores e profissionais em constante estado de alerta vivem em descompasso com seu relógio biológico. A insônia, nesses casos, não é apenas um desconforto — é uma ferramenta de esgotamento, um combustível para a fadiga emocional e um inimigo invisível da produtividade. Empresas que não consideram o impacto dos distúrbios do sono na saúde mental de seus funcionários estão ignorando uma bomba-relógio silenciosa.


Implementar ações de conscientização, educação emocional e apoio psicológico é mais do que um diferencial — é uma necessidade estratégica de cuidado com o capital humano.

 

Curiosidade científica: Peixes com insônia?


Pesquisadores europeus descobriram que traços de ansiolíticos descartados em rios afetam o comportamento de peixes, tornando-os mais impulsivos, solitários e desregulados em seus ciclos naturais (Brodin et al., 2014). Aparentemente, até os animais percebem que interferir artificialmente no sono tem consequências profundas.


O sono é o termômetro da mente


Dormir bem é um dos sinais mais profundos de equilíbrio emocional. E quando isso não acontece, o corpo dá sinais — às vezes sutis, às vezes gritantes. Cabe a nós escolher se vamos silenciá-los com química… ou escutá-los com cuidado e consciência.


Psicoterapia não é luxo. É autocuidado. E cuidar do sono é cuidar da sua vida.

 

Referências:


TRINCA, Wilson. Notas clínicas sobre a insônia simples. Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. XXIX, n. 1, p. 120–125, 2009.


MORIN, Charles M. et al. Psychological and behavioral treatment of insomnia: update of the recent evidence (1998–2004). Sleep, v. 29, n. 11, p. 1398-1414, 2006.


BRODIN, Tomas et al. Ecological effects of pharmaceuticals in aquatic systems—impacts through behavioural alterations. Philosophical Transactions of the Royal Society B, v. 369, n. 1656, 2014.


APA – American Psychological Association. Clinical practice guideline for the treatment of chronic insomnia in adults. Washington: APA, 2016.


HARVEY, Allison G. A cognitive model of insomnia. Behaviour Research and Therapy, v. 40, n. 8, p. 869-893, 2002.


SCHENCK, Carlos H.; MAHOWALD, Mark W. Parasomnias associated with sleep disorders: a review. Journal of Clinical Neurophysiology, v. 19, n. 6, p. 397-409, 2002.

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Jackson Ferreira

Psicologia e desenvolvimento pessoal
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